Dos 12 estádios brasileiros selecionados para a Copa do Mundo, apenas três são administrados por clubes. Com o extenso calendário que o futebol impõe no país, Arena da Baixada (Atlético-PR), Arena Corinthians e Beira-Rio (Internacional) têm, na teoria, utilização mais constante do que os outros nove, nas mãos de concessionárias, parceria público-privada ou em processo de licitação para gestão.
O futuro de algumas instalações é colocado em xeque desde antes da Copa, até pelo alto investimento em estádios – mais de R$ 8 bilhões, com quase 100% de investimento público. Maracanã e Mineirão são casos menos preocupantes quanto à utilização. Arenas como as de Brasília, Cuiabá, Manaus e Natal, no entanto, não podem depender apenas do futebol para que não sucateiem e assim se transformem no tal elefante branco, o “selo de qualidade” que ninguém quer receber. Fazer valer o papel desses estádios como legado tem sido o desafio dessas cidades com o fim do Mundial.
O iG Esporte questionou os responsáveis pelas nove arenas que não são geridas por clubes sobre eventos pós-Copa, custo mensal de manutenção e expectativas de arrecadação para este ano – apenas o Estádio Nacional, em Brasília, e o Castelão (Fortaleza) tiveram valores divulgados a respeito dos últimos dois itens. Abaixo, veja como cada local será utilizado até o fim de 2014.
Arenas recém-inauguradas
Com nenhum time da cidade nas duas principais divisões nacionais, Cuiabá tenta usar a Arena Pantanal, construída ao custo de R$ 570,1 milhões, para reacender o interesse do público local pelo futebol. Após a Copa, o estádio recebeu Vasco 4×1 Santa Cruz, pela Série B do Campeonato Brasileiro, e Cuiabá 3×2 Paysandu, pela Série C, com públicos presentes de 7.190 e 14.401 pessoas, respectivamente. De forma conjunta, a Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo (Secopa-MT) e a Federação Mato-Grossense de Futebol agendaram quatro rodadas duplas, com ingressos a preços promocionais. A realização de outros quatro jogos da Série A está em fase de negociação.
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A próxima será neste sábado, com Operário x Tombense (Série D) e Cuiabá x CRB (Série C). Os preços variam de R$ 20 a R$ 30, com meia-entrada a quem tem direito ao benefício. Espera-se que mais de 20 mil pessoas ocupem a Arena Pantanal nesta rodada dupla. “Foi a fórmula que achamos para melhorar o público desses times e que eles voltem a atuar em estádios lotados. Queremos fidelizar o sentimento de voltar aos campos de futebol em Cuiabá. A rodada dupla também diminui custos e permite integração, traz de volta o apoio aos times locais e ao futebol mato-grossense”, explicou Maurício Guimarães, secretário da Secopa no Mato Grosso.
A administração da Arena Pantanal está em processo de licitação, a ser concluído até o fim do ano. Segundo Guimarães, uma das cláusulas da cessão vai garantir que esses incentivos para os que times locais usem o estádio sejam mantidos. “O estádio tem de servir de indutor para o resgate do futebol local. Mesmo que o Estado precise subsidiar, não se pode inviabilizar de forma financeira que as equipes do Mato Grosso usem o local.”
Protagonistas da Copa do Mundo têm valorização acima de qualquer projeção
Enquanto Cuiabá foca apenas no futebol, Manaus tem apostado no conceito multiuso para a Arena da Amazônia, que custou R$ 669,5 milhões. Segundo a Unidade Gestora do Projeto Copa do Governo do Amazonas, oito eventos já estão agendados para o local, mas apenas um é esportivo: Oeste x Vasco, dia 16 de setembro, pela Série B. Os demais são shows nacionais, como Ivete Sangalo (22 de agosto) e Capital Inicial (23 de outubro), e um internacional, com a banda de rock norte-americana Guns ‘n Roses, em 5 de novembro. O local também está em processo de licitação para ser entregue à iniciativa privada.
A Arena das Dunas, em Natal (investimento de R$ 400 milhões), está à disposição de ABC e América-RN, que disputam a Série B, para jogos sempre que necessitarem. Segundo a OAS, administradora do estádio, três festivais de música (Villa Mix, Arena Pop e MADA) já estão agendados e outras 30 datas devem ser negociadas até o fim do ano. Já a Arena Pernambuco (R$ 532,6 milhões) tem sido a casa do Náutico na Série B. A Odebrecht Properties informou em nota que outros clubes discutem para utilizar o campo, além de o local ter vendido os naming rights para Itaipava, marca da Cervejaria Petrópolis.
Estádios reformados
Arena mais cara entre as 12 utilizadas na Copa do Mundo, com mais de R$ 1,4 bilhão consumidos, segundo a Matriz de Responsabilidade (que controlou os gastos com infraestrutura para o evento), o Estádio Nacional de Brasília arrecadou desde sua inauguração, em 18 de maio de 2013, R$ 3,2 milhões em taxas de ocupação com eventos, além de demandar R$ 1,5 milhão apenas em gastos com água e energia elétrica. Em nota, a Coordenadoria de Comunicação para a Copa (ComCopa), do Governo do Distrito Federal, explicou que o valor ficou aquém do potencial da instalação porque “foi um ano de testes, de consolidação da operação do estádio. Vários eventos não foram cobrados ou tiveram isenção e/ou descontos nas taxas previstas para o uso do espaço por serem de relevância para a cidade e para testar o funcionamento da arena.” Faz parte desses eventos relevantes para a cidade o projeto Alma Gêmea, que realizou em 26 de julho um casamento coletivo para 100 casais sem possibilidades financeiras de custear uma cerimônia.
O Estádio Nacional já havia recebido a abertura da Copa das Confederações e partidas do Flamengo em 2013. Após o Mundial, há a previsão de seis jogos e quatro shows realizados até o fim deste ano.
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Segundo estádio mais caro (mais de R$ 1 bilhão), o Maracanã, palco da final da Copa do Mundo, mudou de cara mas segue como o templo do futebol carioca, com os principais times da cidade o usando para seus jogos, além do potencial turístico – recebeu mais de 150 mil visitantes e fez mais de 100 eventos em um ano, segundo a Odebrecht Properties. Outro palco tradicional do futebol, o Mineirão (R$ 695 milhões) tem abrigado o Cruzeiro e as principais partidas do Atlético-MG, além de abrir para shows internacionais em Belo Horizonte, como Paul McCartney, Beyoncé e Elton John.
Reformada após a queda de uma parte da arquibancada, em 2007, a Fonte Nova (R$ 689,4 milhões) é a casa do Bahia na Série A e realizou desde 2013 mais de 50 eventos corporativos, além de três shows (Elton John, Ivete Sangalo e David Guetta). O estádio, assim como a Arena Pernambuco, teve os naming rights adquiridos pela Itaipava. Já o Castelão, em Fortaleza, atende a demanda dos clubes locais para jogos quando solicitado e não conta ainda com eventos agendados até o fim do ano, segundo a assessoria da comunicação da Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo (Secopa-CE). A gestão do local funciona por parceria público-privada, com previsão de R$ 32 milhões até 2018 para manutenção. O Governo do Estado recebe 100% do aluguel nos jogos de futebol e 50% em eventos culturais.
Reportagem de: 31.07.2014
Disponível em:
http://copadomundo.ig.com.br/2014-07-31/de-show-a-casamento-coletivo-estadios-buscam-alternativas-de-uso-apos-a-copa.html